Um levantamento feito pelo Instituto de Planejamento Físico-territorial de Jaraguá do Sul (Ipplan) e pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico aponta que 54% dos avicultores dispensados com o fechamento da Seara ainda têm dívidas. Os valores do financiamento variam de R$ 3 mil a R$ 380 mil. Um dos dados que chamou a atenção dos técnicos é que, para 50% dos produtores endividados, o valor é superior a R$ 100 mil. A pesquisa traçou um perfil da situação da avicultura jaraguaense, para apurar os impactos sofridos pelo segmento. Após o fechamento da Seara, em dezembro de 2011, 890 trabalhadores foram dispensados. A pesquisa foi solicitada pelo vereador Eugênio Juraszek, em maio. Os resultados foram obtidos com base no cruzamento dos dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Agricultura e a Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). O estudo, realizado em 39 das 200 propriedades da região que produziam para o frigorífico, aponta que, quase dois anos após o fechamento da unidade, o município tem sofrido impactos negativos. Constatou-se que 12% das propriedades pesquisadas ainda atuam na avicultura de corte, a maioria de frango (95%) e o restante marreco. Além disso, 20,5% dos produtores ainda não conseguiram se reorganizar e redirecionar suas atividades. A pesquisa também constatou que as dificuldades refletem também no comércio, principalmente no entorno das propriedades produtoras e da fábrica. O presidente do Ipplan, Benyamin Fard, diz que a equipe pretende conversar com representantes dos bancos e com representantes do governo do Estado para negociar prazos mais extensos para pagamento das dívidas. Além disso, assistentes sociais devem visitar moradores em dificuldade. — Constatamos três casos de famílias que estão passando necessidade e não utilizam nenhum programa social. Esses moradores serão visitados — comenta. Técnicos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Agricultura estão avaliando em parceria com os produtores o reaproveitamento dos galpões para outras atividades, como produção de flores, hortaliças, aves exóticas, alimentos processados e criação de gado em confinamento. A criação de rãs chegou a ser estudada, mas descartada por causa do alto custo de implantação - em torno de R$ 80 mil. — É preciso considerar possibilidades que não necessitam de investimento a curto prazo, já que os produtores estão endividados e não têm mais dinheiro para investir. Levino (na foto) investiu quase R$ 30 mil Depois de 32 anos dedicados à criação de frangos, Levino Spredmann, 54 anos, lamenta ao ver o aviário de 650 m² ao lado de casa completamente vazio. Cerca de um ano antes da Seara fechar, o morador do bairro Rio da Luz investiu R$ 27 mil na compra de novos equipamentos. A dívida foi financiada em dez anos. Como garantia de que o valor será quitado, o imóvel onde ele mora com a mulher, a mãe e dois filhos foi hipotecado. A família chegava a receber cerca de 2,5 mil por lote de 7 mil frangos, pago a cada dois meses. — Quando a Seara fechou, não tinha pago nem a primeira parcela — relembra. Depois, ele passou a criar marrecos para outra empresa da cidade, mas a atividade durou apenas oito meses porque o frigorífico fechou as portas no fim de 2012. Hoje, a família sobrevive do arrendamento de parte das terras com plantação de banana, o que rende cerca de R$ 4 mil por ano. As outras despesas da casa são pagas com a ajuda a aposentadoria de Levino e do salário do filho de 21 anos, que trabalha como motorista. — Antes, a gente ia no supermercado e pagava em dinheiro. Hoje, a gente pendura a conta e paga quando dá. Fonte: Jornal Hora de Santa Catarina - Daiane Zanghelini
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